quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tratando o esgoto pela raiz

Coletar e tratar o esgoto de áreas rurais ou de pequenos municípios mais afastados dos grandes centros é hoje um dos maiores entraves à universalização do saneamento básico no Brasil. Só no Paraná, segundo o IBGE, mais da metade das cidades (57,9%) não possui rede de coleta de efluentes. No entanto, existem técnicas simples, relativamente baratas e ecologicamente corretas que ajudam a minimizar o impacto ambiental e reduzir o risco de doenças provocadas pelos dejetos lançados in natura nos rios.

As estações de tratamento de esgoto (ETEs) por zona de raízes são um exemplo disso. Neste caso, plantas fazem a filtragem do efluente antes de lançá-lo na natureza. Em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, a Chácara Harmonia adotou há um ano e meio esse sistema. Na frente da propriedade – que é toda autossustentável – não passa rede coletora. O esgoto, anteriormente jogado em um poço morto, agora vai para uma pequena ETE. “Qualquer um que tenha um terreno pequenininho pode fazer. E você não precisa construir a casa assim, pode adaptar o sistema que já existe”, explica Alessandra Seccon Grando, que mora na chácara com a mãe, Salete Seccon.


Fossas
No sistema adotado na residência, o efluente passa por duas fossas fechadas, que decantam a parte sólida e possibilitam sua decomposição. Em seguida, o esgoto vai para um tanque impermeabilizado que contém – de baixo para cima – camadas de pedra brita e areia. Em cima dessas camadas são inseridas macrófitas (plantas de áreas alagadas), que trabalham em simbiose com bactérias aeróbicas. Estas, por sua vez, decompõem as partículas orgânicas junto às raízes. Para isso, utilizam o oxigênio captado do ar pelas próprias plantas. Depois de tratada, a água que sobra cai no terreno e infiltra. “Dá para fazer um laguinho com peixes aqui”, planeja Salete.
“Basicamente, as fezes se transformam em plantas e em um lindo jardim, com bananáceas, juncos, papirus e aguapés”, resume o técnico em meio ambiente Thomás Moutinho, que construiu a ETE da chácara. Adepto da permacultura – ciência que valoriza práticas sustentáveis, inclusive em construções –, ele explica que a obra levou apenas dois dias para ser concluída e custou cerca de R$ 500. A ETE tem capacidade para tratar o esgoto produzido por 4 pessoas/dia. Em um sistema maior (para 12 casas), construído no interior de São Paulo, o custo foi de R$ 1 mil por casa, segundo Moutinho.
De acordo com a bióloga Tamara Van Kaick, professora adjunta do departamento de Química e Biologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a eficiência das ETEs por zona de raízes depende da combinação de fatores como o tipo de planta, a granulometria (tamanho) da brita e da areia e do tipo e volume de esgoto, entre outros. Ainda assim, na média, os resultados são muito bons. “Algumas avaliações identificam uma excelente redução em todos os parâmetros. Alguns, como coliformes fecais, chegam a ter redução de 99%”, destaca.
Além de não ter problemas com o mau cheiro e incrementar o jardim, a ETE praticamente não dá manutenção. “O que a gente tem de fazer, às vezes, é tirar o excesso de raízes”, explica Alessandra. Salete, por sua vez, toma alguns cuidados prévios. “Água sanitária não pode, então usamos somente sabão. Eu me preocupo em não colocar nada que vá matar as plantas”, justifica.


COMO FUNCIONA:
A ETE por zona de raízes tem um sistema simples, mas eficiente.
* O efluente que sai da residência vai para uma fossa séptica comum, impermeabilizada. Ali, o esgoto bruto decanta por ação da gravidade. As partículas mais pesadas vão para o fundo; as leves sobem. Neste estágio, ocorre a decomposição anaeróbica (sem oxigênio) do material orgânico.
* Ainda nesta etapa, pode-se acrescentar opcionalmente um tanque com carvão para absorver produtos químicos como sabões e água sanitária, que agem como biocidas, matando as bactérias nas raízes das plantas e comprometendo a eficiência do sistema.
* Na sequência, o efluente entra pela parte mais baixa de um tanque construído normalmente em ferro e cimento e impermeabilizado. No fundo desse tanque, acrescentam-se camadas de pedra britada – mais grossa no fundo e mais fina em cima. Quanto menor o espaço entre as camadas, mais eficiente será o tratamento. Depois, coloca-se areia, onde as plantas macrófitas são inseridas.
* A região onde as raízes avançam torna-se uma área aeróbica. As plantas têm capacidade de injetar o oxigênio em suas raízes, onde vivem microrganismos – zona conhecida como biofilme –, que decompõem as partículas orgânicas, liberando-as para as plantas.
* Finalmente, pode-se construir um pequeno lago para oxigenação do efluente que sai pela parte superior do tanque. Este lago pode ser habitado por sapos e até por pequenos peixes.

Casca de banana transformada em pó pode despoluir água

Esnobada por indústrias, restaurantes e até donas de casa, a casca de banana pode em breve dar a volta por cima. Descobriu-se que, a partir de um pó feito com ela, é possível descontaminar a água com metais pesados de um jeito eficaz e barato. O projeto é de Milena Boniolo, doutoranda em química pela Ufscar (Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista), que teve a ideia ao assistir a uma reportagem sobre o desperdício de banana no Brasil. "Só na Grande São Paulo, quase quatro toneladas de cascas de banana são desperdiçadas por semana. E isso é apenas nos restaurantes", diz a pesquisadora.
Boniolo já trabalhava com estratégias de despoluição da água, mas eram métodos caros - como as nanopartículas magnéticas -, o que inviabilizava o uso em pequenas indústrias. Com as cascas de banana, não há esse problema. Como o produto tem pouquíssimo interesse comercial, já existem empresas dispostas a simplesmente doá-las.
Massa crítica - "Como o volume de sobras de banana é muito grande, as empresas têm gastos para descartar adequadamente esse material. Isso é um incentivo para que elas participem das pesquisas", afirma.
O método de despoluição se aproveita de um dos princípios básicos da química: os opostos se atraem. Na casca da banana, há grande quantidade de moléculas carregadas negativamente. Elas conseguem atrair os metais pesados, positivamente carregados. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso potencializar essas propriedades na banana. Isso é feito de forma bastante simples e quase sem gastos de energia. As cascas de banana são colocadas em assadeiras e ficam secando ao sol durante quase uma semana. Esse material é então triturado e, depois, passa por uma peneira especial. Isso garante que as partículas sejam uniformes. O resultado é um pó finíssimo, que é adicionado à água contaminada. Para cada 100 ml a serem despoluídos, usa-se cerca de 5 mg do pó de banana. Em laboratório, o índice de descontaminação foi de no mínimo 65% a cada vez que a água passava pelo processo. Ou seja: se for colocado em prática repetidas vezes, é possível chegar a níveis altos de "limpeza". 

Biocombustível de levedura

Um grupo internacional de cientistas anunciou ter conseguido obter geneticamente uma nova linhagem de levedura que se mostrou capaz de produzir etanol a partir do uso de mais tipos de açúcares de plantas. Para produzir comercialmente combustíveis como o etanol, que no Brasil é derivado da cana-de-açúcar, microrganismos devem ser capazes de fermentar sacarídeos encontrados em vegetais, como glicose, xilose ou celobiose. O problema é que a maioria dos micróbios não consegue converter todos esses açúcares em combustível que possa ser produzido em escala.
No novo estudo, Yong-Su Jin, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, e colegas, expandiram a capacidade natural da levedura Saccharomyces cerevisiae de fermentar glicose ao modificar geneticamente o fungo – que também é usado na produção de pão e cerveja – para que se tornasse capaz de transportar proteínas de outro tipo de levedura, a Pichia stipitis. Embora as duas leveduras sejam da mesma família, apenas a Pichia stipitis é capaz de fermentar a xilose, açúcar derivado de madeiras e associado à celulose. A linhagem de levedura resultante se mostrou capaz de fermentar os três açúcares – glicose, xilose e celobiose. A levedura modificada também superou um problema de linhagens obtidas em pesquisas anteriores, que fermentavam açúcares pobremente mesmo na presença de glicose abundante. Segundo os autores da nova pesquisa, os resultados deverão ajudar no desenvolvimento de biocombustíveis avançados feitos a partir de matéria orgânica.

Bilhões de fragmentos plásticos no Mediterrâneo ameaçam vida marinha



Cerca de 250 bilhões de pedaços microscópicos de plástico flutuam no mar Mediterrâneo, representando uma ameaça à biodiversidade marinha. O pronunciamento foi feito por biólogos marinhos da França e da Bélgica, que analisaram amostras de água coletadas em julho na costa da França, do norte da Itália e da Espanha a uma profundidade de 10 a 15 centímetros."As estimativas grosseiras são de que haja uns 250 bilhões microfragmentos em todo o Mediterrâneo", explicou François Galgani, do Instituto Francês de Exploração do Mar (Ifremer).O número corresponde a 4.371 minúsculos pedaços de plástico - com peso médio de 1,8 miligrama - encontrados nas amostras, "que superam, grosso modo, as 500 toneladas em todo o Mediterrâneo", disse Galgani.
Noventa por cento das amostras, coletadas por voluntários da Expedição Mediterrâneo em Perigo (MED, na sigla em inglês) em um iate de 17 metros, continham estes fragmentos. A amostragem cobriu apenas as águas superficiais e deu apenas um avaliação preliminar. Coletas futuras, na costa de Gibraltar, Marrocos, Argélia, Tunísia, Sardenha e sul da Itália serão feitas em 2011 para uma análise mais abrangente.Pequenos fragmentos plásticos são uma ameaça permanente no mar, pois se misturam ao plâncton, sendo então ingeridos por pequenos peixes que são comidos por predadores maiores, explicou a Expedição MED.
Há evidências acumuladas dos danos que isto provoca a maiores formas de vida marinha, incluindo focas e tartarugas."A única solução é conter os microfragmentos nas fontes", disse o integrante da Expedição MED, Bruno Dumontet.